Aquisição da Activision Blizzard: não seria o caso de a Sony se tornar menos grosseira?

Na última semana, o órgão antitruste brasileiro se manifestou favoravelmente em relação à aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft por cerca de 70 bilhões de dólares. O seu parecer é não vinculativo (os únicos vinculativos são os dos EUA, do Reino Unido e da União Europeia), mas ainda tem o seu peso, porque naturalmente os outros órgãos que exercem as mesmas funções estão interessados ​​em saber o ponto de vista de seus colegas. Não que eles necessariamente tenham que se expressar da mesma forma, mas certamente podem levar em conta os vários endossos internacionais antes de expressar sua opinião ou fazer pedidos.

Procedimentos desse tipo possuem rituais que são sempre respeitados, em primeiro lugar se ouve dos concorrentes que de alguma forma estão envolvidos no faturamento influenciado pelo potencial cumprimento do acordo. Por exemplo, também nesta semana chegou a notícia de que o antitruste europeu pediu para ouvir a opinião de alguns desenvolvedores antes de decidir. Isso mesmo: antes de decidir é correto e sacrossanto ouvir o maior número de vozes possível.

Erra quem considera certas aquisições como certas, porque são processos longos e complexos. Se não fosse esse o caso, a Microsoft não teria sido obrigada a produzir milhares de páginas de documentos para cada instituição, fornecendo respostas e materiais complementares quando necessário. Ela nem teria montado uma equipe dedicada se necessário, pagando milhões de dólares de advogados e especialistas, mas bastaria contratar alguns comentaristas e eles teriam a situação sob controle. Na verdade, estamos falando de algo extremamente complexo, que não pode ser reduzido a um mero “eles sabem o que fazem” (claro que sabem, mas isso não significa nada) e cujo resultado não pode ser dado como certo, porque não é garantido.

Também é certo que aqueles que se sentem ameaçados pela aquisição levantem todas as dúvidas do caso porque é do seu direito e do seu interesse. Afinal, se há necessidade de aprovação dos órgãos de defesa da concorrência, é justamente para proteger todos os consumidores, entendidos no sentido mais amplo de mercado de referência das empresas envolvidas. Um monopólio seria prejudicial a todos.

Dito isto, ver o presidente de uma empresa prestigiosa e poderosa como a Sony fazer uma oposição grosseira não é uma visão bonita. Primeiro foram as saídas contra a Microsoft, lançadas na briga na imprensa, depois as várias idas aos vários órgãos antitruste, casualmente divulgado a todos, inclusive as opiniões expressas. Não que Jim Ryan (estamos falando dele, é claro) tenha que ser complacente. De fato, como já mencionado, tem todo o direito de tentar fazer tudo (dentro dos limites da lei, é claro) para acabar com a aquisição. No entanto, poderia adotar uma estratégia que não envenenasse ainda mais o meio ambiente, criando conflitos públicos, acabando por envolver os próprios jogadores no que é apenas um contraste entre multinacionais bilionárias que têm como objetivo o faturamento e a felicidade dos acionistas, não certamente a do público. Além disso, desta forma está a dar uma ideia ligeiramente alterada das relações de poder do mercado de videojogos.

A PlayStation é a líder entre as empresas do mercado tradicional de consoles, é justo reiterar, e está à frente da Microsoft e da Nintendo em diferentes comprimentos (leia bilhões de dólares) em termos de receitas anuais. Atualmente o PS5 é o console de nova geração mais vendido. A marca é forte, a base de fãs é leal e apaixonada, os investimentos da empresa estão se multiplicando em diferentes direções e, sucesso após sucesso (pense em pousar no PC) o futuro parece cada vez mais róseo, então por que temer com tanta força o perigo de um monopólio a ponto de incomodar o antitruste brasileiro?: “o principal objetivo da atividade do CADE é a defesa da concorrência como meio de promoção do bem-estar dos consumidores brasileiros, e não a defesa de interesses particulares de concorrentes específicos ” .

Paradoxalmente, ao fazê-lo, corre-se o risco de obter o efeito contrário ao desejado. O primeiro lugar gritando contra o terceiro lugar sobre monopólio….

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *